Trabalhos 2022/2023

Escola Padre José Agostinho Rodrigues (Alter do Chão)

Atividade:  Receitas Sustentáveis têm Tradição

Escalão: 

Memória Descritiva:
É de referir que a data inicial da atividade teve de ser alterada por motivos de saúde da Avó Maria e daí ter-se feito uma pequena alteração.
O objetivo dessa atividade foi o de dar a conhecer à comunidade escolar uma receita da gastronomia local, aproveitando, se possível os ingredientes cultivados na horta pedagógica. A vontade por parte da nutricionista da escola, de fazer uma atividade para a comunidade escolar, para motivar os alunos para a alimentação saudável, fez-nos pensar e lançar o desafio das Receitas com Tradição, que foi de imediato aceite. Assim, fizeram-se vários contatos com avós, chegando-se à Avó Maria. Após várias ideias, fazer-se uma sopa foi a solução que se achou mais pertinente uma vez uma grande parte dos alunos ainda é muito reticente ao consumo de sopa. Deste modo, surgiu a ideia da sopa de espinafres com ovos escalfados, sendo os espinafres cultivados na horta pedagógica, seria uma mais-valia. Esta sopa é um ótimo exemplo de uma receita com tradição que foi evoluindo ao longo do tempo, com a adição de ovos escalfados ou de queijo fresco, como forma de enriquecer nutricionalmente a receita que utiliza ingredientes sazonais (espinafres) e métodos de confeção mediterrânicos (as sopas de pão embebidas no caldo quente). Foram feitos cartazes de divulgação desta atividade – Showcooking com a Avó Maria - por alunos de uma turma da escola. Os alimentos utilizados formam adquiridos localmente, uma vez, que os espinafres da horta tiveram de ser consumidos antes desta atividade acontecer (alteração da data da atividade). Foi preparado um “cantinho” na sala de convívio da escola, com fogão e todos os utensílios necessários para a confeção da sopa. Os ingredientes foram todos higienizados na cantina escolar e foram levados para o local da preparação da sopa. A execução da mesma decorreu com a presença da Avó Maria e de vários alunos, professores e funcionários da escola que aderiram à realização da atividade num número bastante significativo. Os alunos demonstraram bastante entusiasmo e no final da confeção da sopa, mesmo os que não costumam comer sopa, quiseram provar, pois segundo eles “Cheirava muito bem!”. É de referir que a adesão ao consumo desta sopa, por parte dos alunos foi bastante, uma vez que vários repetiram. O apoio da direção da escola e da autarquia foram de uma importância fundamental, pois sem eles teria sido impossível ter realizado uma atividade desta envergadura.

Quais as razões que motivaram a escolha deste prato em específico?
Contextualização teórica
“Para muitos alentejanos, açordas e sopas de pão são uma e a mesma coisa” – Professor António Galopim de Carvalho (in "Açordas, Migas e Conversas", Âncora Editora, 2017).
No Alentejo, a palavra “sopa”: Alimento que consiste num caldo, geralmente à base de legumes, que se serve no começo das duas principais refeições ("sopa", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/sopa [consultado em 26-05-2023]) pode ainda referir-se a cada um dos pedaços de pão, cortados à faca ou partidos à mão, que irão ser embebidos num caldo quente. É neste último contexto que se “molham as sopas” ou que se “migam as sopas”. Ao dizer sopas (no plural) referimo-nos a um só prato, à base de pão, como por exemplo: sopas de cação, sopas de beldroegas, sopas de tomate...
Segundo o Professor António Galopim de Carvalho: “Existem muitas receitas de açordas no Alentejo, todas elas com uma característica comum, a de fatias ou pedaços de pão mergulhados (ensopados) num qualquer caldo quente, com mais ou menos gordura. As receitas são muitas e mudam de região para região e, mesmo, de família para família. Fazer sopas de pão deve ter começado por ser um acto de elementar economia, bem evidente no Alentejo, onde, ao contrário do norte do país, o trigo foi e continua a ser o essencial na componente amilácea dos seus naturais. Fazer sopas de pão foi um expediente engenhoso e fácil de aproveitar integralmente o pão endurecido de muitos dias, onde já se não metia o dente. Só molhado! Amassar e cozer o pão era tarefa, no mínimo, semanal, via de regra ao Sábado e, assim, o pão que durasse até nova amassadura, só bem embebido no caldo ou, então, comido à navalha e em lasquinhas bem delgadas. No Alentejo, o pão de trigo sempre engrossou e deu calorias a uma qualquer frugal confecção caldosa, fazendo dela, muitas vezes, uma refeição completa. Avolumar com pão os magros cozinhados, numa prática corrente, foi um nunca mais acabar de experiências (migas, ensopados, açordas, “caspachos” e outras sopas). As açordas dos mais carenciados raiavam a frugalidade: pão, água e azeite. Era assim nos campos do Alentejo que conheci no meu tempo de adolescente. Ao invés, as açordas dos que podiam comê-las, tinham grande valor nutritivo e requintado paladar. Convenientemente untadas de bom azeite, eram enriquecidas com bacalhau, pescada cozida, sardinhas assadas ou fritas e ovos cozidos ou escalfados e, até, nalgumas famílias, com figos frescos, no tempo deles. Com a real melhoria das condições de vida, de há mais de quatro décadas, as sopas alentejanas evoluíram de alimento de subsistência, muitas vezes em períodos de fome, para um prato de referência.”
A receita escolhida - Sopas de pão com espinafres e ovos escalfados - é um ótimo exemplo de uma receita com tradição que foi evoluindo ao longo do tempo (adição de ovos escalfados ou de queijo fresco como forma de enriquecer nutricionalmente a receita do ponto de vista proteico), que utiliza ingredientes sazonais (espinafres) e métodos de confeção mediterrânicos (as sopas de pão embebidas no caldo quente) e que ao ser consumida atualmente permite não só um momento de degustação dos sabores de antigamente, mas também a partilha de estórias à mesa.

Documento word com a receita descrita, com as fotografias devidamente legendadas:

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